Ministério na Galileia:
Quem é este que faz milagres? Mc1-8,26

1- Começo da pregação

Jesus não quer fazer sozinho a sua tarefa. Necessita de nós para que a continuemos HOJE. O seu chamamento é constante. Cada convite, ao repetir-se, dá mais luz, a fim de que respondamos CONVERTENDO-NOS. Seguindo-O, aprenderemos quem Ele é, o Mestre, e quem somos nós, uns jornaleiros que, para ir com Ele, temos que deixar OUTROS  INTERESSES.

A autoridade de Jesus é real e simples. Não impõe, como a miúdo fazem as autoridades deste mundo, mas cura. Contudo, só Ele terá plena autoridade nas nossas vidas, se nós não admirarmos apenas a sua doutrina, mas se fizermos dela VIDA.

A sogra de Pedro, uma MULHER que os rabinos nunca saudavam em público, depois de ser curada por Jesus põe-se a SERVIR. Um modelo de atitude evangélica. Ela serve como fez Jesus. Pela manhã Jesus levanta-Se cedo para rezar. Marcos resume um dia da vida de Jesus em 3 pontos: PREGA com autoridade, CURA os homens e mulheres a fim de que "sirvam", e ROGA. Que também nós sejamos cristãos pelo testemunho pregado, pela compaixão com os irmãos, e pela oração.
 

Jesus agora dirige-Se a um excluído. O leproso é considerado "um morto vivente" (Núm12,12). É o primeiro marginalizado curado por Jesus. Um novo estilo de vida do Mestre, bem diferente do normal do seu povo. E, apesar de Jesus já ter pedido que não façam propaganda d’Ele, o leproso converte-se em Missionário. E nós?

2- Discussões que nos dizem QUEM É Jesus

Curando o paralítico e perdoando-lhe os pecados, os seus adversários implicitamente vêem-se obrigados a proclamá-l’O DEUS. Dizem "só Ele pode perdoar". Se Jesus também perdoa quer dizer que ... O PERDÃO é o dom maior que Jesus nos trouxe da parte do Pai. A nossa natureza humana é uma conquista tão difícil, que às vezes ficamos paralizados pelo egoísmo. E viver é-nos impossível. Mas até dentro da prisão mais escura, podemos ouvir a voz de Deus que nos diz como ao leproso: "Levanta-te e anda".

Levi era um publicano pecador, como os seus amigos. Jesus chama-o para que seja do grupo dos seus discípulos. Que escândalo! Os fariseus criticam-n’O. Então Jesus declara-se nosso MÉDICO. Henri Nowen é um bom autor que parte da experiência da própia debilidade espiritual. Também nós O deveríamos confessar neste momento da Igreja. Também nós temos que reconhecer a nossa incoerência espiritual, no momento de nos aproximarmos do Altar para Comer com Ele.

Jesus defende os discípulos que rompem com as velhas tradições rabínicas do jejum. Ele inicia uma nova forma de relacionar-se com Deus, já que é o ESPOSO do reino. Vindo ao mundo, Deus celebrou umas Bodas com a humanidade. Para encontrar Deus não são necessárias as práticas externas, visto que Ele está dentro de nós. E na prática, há que apanhar o nosso "velho" agir, com a roupa "roçada" com uma austeridade de vida.

Os discípulos apanham espigas ao sábado para as comer. Os judeus acusam-nos. Jesus defende-os, dizendo que Ele é Senhor da Lei do sábado porque, como Filho do homem, é SENHOR de tudo o que pertence à pessoa humana. E os seus discípulos tão pouco têm que se deixar escravizar por qualquer lei, já que a sua meta é converter-se em "humanos" como Jesus.

FAZER O BEM é a única lei EVANGÉLICA que Jesus nos deu, o NOVO LEGISLADOR. Por isso, cura ao  sábado, porque para Ele o importante é o bem das pessoas, não as palavras da Lei. Os fariseus não valorizam os outros, mas o seu própio conhecimento da Lei.

3- Uns aceitam Jesus e outros opõem-se-Lhe

Jesus é o mesmo para uns e para outros, mas os olhos que O vêem são diferentes. Marcos quer ressaltar o contraste entre o desejo de O assassinar, dos chefes do povo, e as multidões estrangeiras (de Tiro e Sidónia) que O seguem. Para CRER não é necessária muita "ciência", nem muito "progressismo", mas aproximar-se d’Ele como as multidões que O empurram. Quando cairem as ilusiões, que Ele seja a certeza da nossa vida.

Jesus chama os Doze. Quer que espalhem a sua Boa Notícia, e que "estejam com Ele". Duas vertentes da vida missionária, segundo o Jesus de Marcos. Na montanha, lugar que aproxima de Deus, Jesus chama-nos pelo NOME, para que sigamos o plano evangélico que Deus tem para cada um de nós.

Neste conjunto de reacções a favor e contra Jesus, a tradição de Marcos, muito antiga, recolhe um facto escandaloso: Nem os parentes de Jesus O entendem. Dizem que está louco. Que sofrimento e que solidão a sua! E nós? Deixamo-nos levar pela "loucura" do Reino, ou preferimos a "sensatez" dos humanos?

Na raiz das expulsões de demónios que Jesus faz, os doutores da Lei dizem que Ele está possuído por Belzebú. Mas Jesus confessa ser "O FORTE", prometido por Isaías (Is 49,24), que vem atar as forças do mal. Aquela interpretação sobre Jesus é a pior blasfêmia contra o Seu Espírito Santo. A FÉ começa no coração. Para quem não quer crer, mil certezas não são mais que um engano.

Acabamos esta secção de aceitação ou recusa de Jesus com este fragmento realmente privilegiado. Talvez um dos mais impressionantes do evangelho. Os reunidos à volta de Jesus são a sua NOVA FAMÍLIA. Entre Ti e nós, Senhor, há uns vínculos mais fortes que os do sangue. Nós somos a tua Mãe e os teus Irmãos.

4- Parábolas sobre o REINO

Jesus não prega dentro da igreja, mas na rua, numa barca. Diz que Deus espalhou as sementes do Reino, magnanimamente, por toda a terra. Não só aos seus discípulos, mas no coração de cada pessoa. Agora depende de nós o fruto. A parábola do semeador, pois, fala da iniciativa de Deus; agora falta que cada um faça frutificar. Contudo, sabemos que o amor de Deus é muito maior, que a nossa capacidade de acolhimento.

O fragmento de hoje tem que se relacionar com a parábola do semeador:
. O segreto do Reino, escondido na terra, é para ser descoberto e posto à luz, num lugar visível.
. Quem tiver ouvidos que escute a Palavra que Deus semeia em nós cada dia.
. Aos que receberam a Palavra e dão fruto, Deus lhes dará muito mais, mas aos que não a receberam, o "mal" lhes tomará até aquilo que tinham.
É necessário, pois, que vejamos como ESCUTAMOS. Não como os doutores da lei, mas como o povo simples que rodeia Jesus.

A parábola da semente semeada que germina e cresce sem que nós saibamos como, própria de Marcos, diz-nos que o Reino tem uma força superior à do nosso trabalho. Deus é MAIOR que nós. E, ao mesmo tempo, a parábola é um chamamento ao respeito diante das actuações dos outros, sem lhes exigir mais do que podem dar. Confiemos na força da SEMENTE.

5- Milagres que revelam quem é Jesus

Jesus dorme na barca porque vive CONFIADO. Quando os discípulos se assustam perante o forte temporal, Jesus recrimina-os por não terem FÉ. A FÉ faz-nos ir mais além das próprias seguranças e pede-nos que nos deixemos levar pelo Dono do barco da Vida. Então ocorrerá o MILAGRE. Não nos damos conta de quem É este Jesus ao qual até o mar Lhe obedece?

Para além da confissão, por parte do possuído pelo demónio, de que Jesus é o FILHO do Deus Altíssimo, no milagre do endemoninhado dos porcos, vemos como o mal atormenta a pessoa de mil maneiras incompreensiveis, enquanto que Jesus vem para a libertar, devolvendo-lhe a dignidade. Onde tivermos um cantinho mau, Jesus entra para levar a SALVAÇÃO de Deus.

A mulher que sofre perdas de sangue toca em Jesus com a profundidade de uma grande Fé, apesar de ser uma pessoa simples. O chefe da sinagoga também crê em Jesus, apesar de ser importante. Nos dois casos Marcos diz-nos que a situação é desesperada. E a FÉ faz o milagre. Nós tendemos a aproximar-nos de Jesus com um certo orgulho de "bons". Então não recebemos os seus dons.

O episódio de Nazaré dá ao evangelho de Marcos um final de recusa à pregação de Jesus. Os de Nazaré
escandalizam-se d’Ele, porque lhes é demasiado próximo. Todos corremos o perigo de nos escandalizar dos que estão mais próximo. A FÉ pede humildade.

6-Os PREGADORES do Reino

Jesus envia os doze, também a nós, com "pobreza", sem espaventos nem estratégias para ter êxitos humanos. Têm que ir dois a dois, em "comunidade", com o fim de praticar o amor fraterno. Só o amor prega por si só: "vede como se amam" era o distintivo dos cristãos.

A morte de João Baptista, decapitado por Herodes, faz pressentir o final que terão Jesus e os seus apóstolos. Herodes com a sua mesquinhez e frouxidão, e Herodíades cheia de amargura e crueldade, anunciam o acolhimento que os "grandes deste mundo" darão ao Reino. Não nos deve estranhar que seja uma constante ao longo da história.

Quando os apóstolos voltam para junto de Jesus, Ele os convida a descansar a seu lado. Fazia-lhes falta que "estivessem com Ele" tinha dito Marcos. Mas a multidão segue-os e Jesus tem compaixão. Sabe que lhes faltam PASTORES. Também o nosso mundo hoje pode estar desorientado por falta de verdadeiros mestres espirituais. A compaixão é mais necessária do que nunca.

7- Milagres à volta da MULTIPLICAÇÃO dos PÃES: Os discípulos têm que repartir o PÃO de Jesus

Marcos realça o poder extraordinário de Jesus que "multiplica os pães". As multidões O reconnhecem e Ele cura-as "só por tocar-lhe a borla do manto". Mas os milagres não têm para Jesus, a importância que lhes damos nós mesmos, ou os do "Palmar de Tróia". O que Ele queria, era fazer nascer a FÉ. Nem os discípulos O entenderam. O final trágico de Jesus, tem a decepção de todos aqueles que esperavam o GRANDE MILAGRE: vê-l’O descer da Cruz. Este milagre reclamado com insolência por uns, secretamente esperado por outros, não se realizou. E foi precisamente esta ausência de milagre, aquilo que foi, e é ainda, o MILAGRE SUPREMO de Deus.

Marcos explica as purificações judaicas, externas e hipócritas, antes de comer, para dizer-nos que Jesus não quer que as pratiquemos antes de tomar o seu Pão. Mas do perigo da hipocrisia não escapam nem os fariseus, nem ninguém. Não cumprimos de coração, aquilo que dizemos com os lábios. No evangelho de amanhã encontraremos a solução.

Quando está "em casa", Jesus ensina aos discípulos como purificar o coração. Se o coração é o centro da pessoa, o ser humano só se realizará se evitar as más intenções. Não podemos soltar o nosso coração a qualquer sentimento de ódio ou inveja que vier.

A fé humilde desta mulher cananeia faz ultrapassar as fronteiras demasiado estreitas do judaísmo. Pondo-se "debaixo da Mesa" do Reino, Jesus concede-lhe "migalhas" de Vida para a sua filha. Para nós é um convite a amar toda a gente, superando qualquer exclusivismo.

O surdo-mudo está diminuído pela sua deficiência. Jesus é bastante poderoso para fazer um milagre brilhante. O povo admira-se, mas Ele não quer que fiquem nestas maravilhas externas. Hoje podemos perguntar-nos de que surdez necessitamos que Jesus nos cure. Porque pela acção do Espírito, e através dos sacramentos e dos irmãos, Jesus quer sempre curar.

Já há "3 dias" que a multidão segue Jesus e não tem nada para comer, porque vem "de longe". O terceiro dia é o da morte e ressurreição. Jesus compadece-Se  da multidão dando-lhe os seus Pães. Todos ficam saciados com esta Eucaristia. Também nós hoje vimos da "lonjura" dos nossos egoísmos, e estamos sem forças para superar tantos desastres mundiais. Jesus faz-nos sentar, e dá-nos o seu Pão. Senhor, faz que, com este Alimento,  nos penetre também a tua COMPAIXÃO!